Ares de interior
A apenas 4km do Palácio da Alvorada, a Vila Planalto chama atenção pela tranqüilidade e pela gastronomia.
Marcelo Rocha
Da equipe do Correio
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Destino dos pioneiros que chegaram para a construção da futura capital e estrategicamente situada entre a Praça dos Três Poderes e o Palácio da Alvorada, a Vila Planalto revela sua vocação para a gastronomia
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Comida típica goiana é o forte do restaurante Cabana da Árvore
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Quem segue de carro do Setor de Clubes Norte para a Esplanada dos Ministérios, pela via L4 Norte, deve notar no meio do caminho um amontoado de casas de um lado e do outro da pista. Observando-se mais atentamente, é possível notar uma certa tranqüilidade, digna de cidade do interior. Nem parece estar encravada entre a Praça dos Três Poderes e o Palácio da Alvorada.
A Vila Planalto parece imune a toda agitação que toma conta dos palácios e gabinetes na vizinhança. Ali, moram atualmente pouco mais de 14 mil pessoas. Gente que gosta do lugar por causa dessa tranqüilidade e também pela sua importância na história de Brasília. ‘‘Este é melhor lugar do Distrito Federal para se morar’’, orgulha-se a contadora Tereza Santana, 34 anos.
De uns tempos para cá, o lugar ganhou notoriedade ao ter se transformado em atração gastronômica (veja matéria nesta página), impulsionado pelas boas opções da comida regional. Essa é uma das facetas da vila. A outra é o seu passado desbravador. O lugar tem muita história para contar sobre a construção de Brasília. Serviu de acampamento de engenheiros e operários — os candangos — que ergueram a capital.
A Vila Planalto conserva algumas poucas construções de madeira — reminiscências dos 22 acampamentos de firmas responsáveis por erguer o Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Congresso Nacional, Rodoviária e os ministérios. Um incêndio criminoso no carnaval de 2000 destruiu uma das mais importantes, a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia.
Umas das poucas construções que resiste ao tempo leva o nome de Fazendinha. São cinco casas grandes — construídas em 1957 — que serviram de residência para engenheiros e pessoal graduado na época da construção. Por ter mantido uso constante, o conjunto da Fazendinha está em melhor estado de conservação. Na década de 80, foi utilizada por ministros como moradia.
O presente
Hoje, cada uma dessas casas está ocupada por uma instituição diferente: a Subadministração Regional da Vila Planalto; a Fundação Kolping, entidade de ajuda a carentes; o Cose (Centro de Orientação Sócio-Educativa); o PAP (Parque de Ação Paroquial, onde são rezadas missas depois da interdição da igreja); a Ampare (fundação de ajuda a excepcionais).
Os pioneiros tornaram-se minoria na Vila Planalto. As ruas lamacentas e esburacadas sumiram com a chegada do asfalto. O tamanho da área também diminuiu. Em 1958, a Vila Planalto abrangia os anexos dos ministérios, o Senado Federal e o Palácio do Planalto, passando pelos setores norte das embaixadas e clubes, até o Palácio da Alvorada.
Tombada pelo Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal (Depha) e pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1988, a vila possui posto de saúde, policiamento, comércio e locais de diversão. Os sinais de todo o abandono que existia antes do tombamento — mato, lixo, esgotos a céu aberto, fossas estouradas, sujeira e espécies de insetos, cobras e ratos — desapareceram.
Lugar de boa comida
A Vila Planalto não vive apenas de memória. Parte do seu charme é fruto da boa comida servida na localidade. A região abriga uma porção de bares e restaurantes. Eles costumam ficar lotados de segunda a domingo. Todos com uma clientela fixa e cativa: políticos, servidores públicos que trabalham na Esplanada dos Ministérios e executivos. Pode-se comer de tudo um pouco. Da tradicional comida mineira ao pescoço de peru.
Um dos responsáveis por todo esse sucesso chama-se Rosental, chef de mão cheia que já cozinhou para Juscelino Kubitschek e para artistas famosos. O mestre da culinária faz pratos de tirar o fôlego dos mais importantes gourmets da cidade. Entre as iguarias de Rosental, destaca-se o Javali Brasiliense. Marinado em ervas aromáticas, o javali é assado no forno e servido com aspargo, banana frita, cogumelo, ervilha e bolinho de milho verde.
Para os amantes da culinária goiana, o point chama-se Cabana da Árvore. Uma gigantesca gameleira sombreia a casa de pau-a-pique coberta com folhas de buriti. O cardápio varia de arroz com pequi a leitoa à pururuca. No Fogão de Pedra, os pratos mineiros são aquecidos em forno de barro. Em todos os esses restaurantes, é comum a espera de meia hora por uma mesa. (M.R.)